Entrevista com Gabriele Greggersen

   Gabriele Greggersen é graduada em Pedagogia, mestre e doutora em História e Filosofia da Educação pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, sob orientação do Dr. Luiz Jean Lauand. Concluiu seu pós-doutoramento junto ao Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo em 2003, com pesquisa dedicada ao imaginário em Dom Quixote das Crianças, de Monteiro Lobato.

          Na Faculdade Teológica Sul Americana (FTSA) em Londrina/PR, ela criou e coordenou um curso de teologia a distância. Também tirou o seu bacharel em teologia naquela instituição.
         Além de ter sido docente, coordenadora e pesquisadora da Universidade Presbiteriana Mackenzie, foi diretora Acadêmica do Seminário Servo de Cristo em São Paulo, ela é autora de Antropologia Filosófica de C.S. Lewis (Editora Mackenzie), sua tese, que recebeu uma versão simplificada em A Pedagogia Cristã na Obra de C.S. Lewis (Editora Vida). É autora ainda de O Senhor dos Anéis: da imaginação à ética (Editora Ultimato), de A Magia das Crônicas de Nárnia I (GW Editora) e de diversos artigos, traduções – como de Deus em Questão (Ed. Ultimato), que vem tendo grande impacto, entre outros livros e artigos – tematizando as relações entre a literatura, a imaginação, o sagrado e a educação. Também organizou a coletânea O Evangelho de Nárnia (Editora Vida Nova) e viajou o Brasil todo palestrando e dando várias dezenas de cursos sobre a importância do imaginário, principalmente da literatura, na educação.
           Escreveu ainda livros de contos imaginativos, como No Guarda-Roupa Mágico: contos inspirados em Nárnia (Editora Descoberta) entre outros livros de contos. Ela também os oferece curso totalmente online pelo seu site que também traz o tema sobre os quais ela já conferiu palestras e muitos artigos relacionados.
          Desde cedo, interessou-se pela imaginação e o lúdico como “pontes significativas” para a compreensão e aprendizado de assuntos complexos como a ética, a metafísica e a teologia. Não se inspirou somente no filósofo e teólogo britânico C.S. Lewis, que deu base a todo o seu percurso intelectual e espiritual, mas também em autores que muito o influenciaram como Gilbert Keith Chesterton; George MacDonald; Rudolf Otto, seu amigo e também autor de ficção, J.R.R. Tolkien. Ela também traduziu e se afeiçoou ao filósofo e teólogo alemão Josef Pieper, falecido em 1997, que traduziu O Problema do Sofrimento para o alemão e é membro honorário da Inklingsgesellschaft, dedicada ao clube de amigos de Lewis e Tolkien.
           Gabriele foi membro benemérito do Instituto Malba Tahan, com sede em Queluz (SP) e ganhadora do Prêmio de Ouro em “Incentivo à leitura, literatura além fronteiras”, da Câmara Municipal de São Paulo em parceria com a Ong Literatura para Crianças.
          Atualmente é analista de educação a distância do SENAC/Regional/ Florianópolis.

C.C.OS OLHOS- O que é leitura?É uma ação complexa,ou não?
           Sim, é uma atividade muito complexa, pois envolve o ser humano como um todo, não apenas a mente e os olhos, mas o corpo todo, principalmente a imaginação e a criatividade. Há lingüistas, como o próprio J.R.R. Tolkien, que consideram a literatura tão complexa quanto o próprio ser humano.
 C.C.OS OLHOS- Podemos chamar de leitura toda e qualquer atividade com texto escrito ?
Podemos ler muitas coisas mais, além do texto escrito. Podemos “ler” uma música, uma situação ou uma paisagem. O grande educador Paulo Freire defendia a educação como formação para a leitura “do mundo” em redor.
 C.C.OS OLHOS- Qual é a maior dificuldade que você vê na formação do leitor brasileiro?O livros fazem parte da vida do brasileiro?Qual a sua visão de escritora a respeito dos leitores brasileiros?
          Do ponto de vista de negócios, o livro é um investimento muito difícil, dada a política de muitas editoras, que ainda não está preparada para as muitas mudanças no campo, principalmente da eletrônica, com a introdução de e-books e formas alternativas de leitura. Algumas só publicam autores de renome, de preferência, internacional. Outras se especializam no que mais vende no Brasil, que são os livros didáticos. E como elas dependem do mercado para sobreviver, se não forem “bancadas” por nenhuma grande instituição, como uma universidade, por exemplo, acabam tendo que sobreviver de outra forma. Se nem Monteiro Lobato conseguia vender seus livros até certa época, pondo-os à venda nas farmácias e outros estabelecimentos comerciais, o autor brasileiro incógnito ou paga para publicar ou fica na sombra mesmo.
Não existe no Brasil uma cultura voltada para os livros, como se pode ver na Europa e nos Estados Unidos, onde os amigos se encontram para ler um livro juntos e para contar histórias. Poucos pais têm no Brasil o bom hábito de contar histórias de ninar para os filhos. Mesmo com o advento da internet pode-se dizer que essa cultura ainda existe por lá. Por aqui, podemos ver alguns filmes, como a série Potter ou Nárnia re-incentivando à leitura, mas pode-se dizer que essas são exceções à regra.
 C.C.OS OLHOS- Que tipo de ações podem ser tomadas no sentido de promover a leitura no Brasil?
             Fazer campanhas pequenas, como as bibliotecas itinerantes e noites de autógrafos com escritores, feiras de livros em mais cidades, não apenas nas metrópoles. Também as ONG´s voltadas para o livro e a leitura devem ser incentivadas. Mas essas ações têm ter continuidade, pois sem planejamento de longo prazo, elas tendem a desaparecer no ar, como muitas outras ações sociais e educativas no Brasil.
 C.C.OS OLHOS-   O que te motivou a escrever?
          Escrevo desde a adolescência, quando descobri que ler e escrever podem ser atos terapêuticos. Então, escrevia para manter a minha saúde mental. Muitas pessoas com doenças mentais poderiam ser menos “doentes” se adotassem um bom e saudável hábito de leitura.
  C.C.OS OLHOS- Quais influências a sua formação em pedagogia e também teologia trouxeram para sua escrita?
         Bom, a pedagogia tem muita leitura. Eu quase desisti no meu primeiro ano de graduação porque vinha de um contexto empresarial e administrativo e não estava acostumada a essa cultura. Mas depois de eu ter me acostumado, passei eu mesma a buscar leituras que eu desejava, tornando-as mais significativas para mim. Foi graças a esse hábito que cheguei a ler Piaget e descobri que muitos dos seus livros não eram lidos na maioria dos cursos na área, porque não temos boas traduções no mercado brasileiro. Foi aí que eu comecei a traduzir e buscar na literatura de fora, algo que faltasse à nossa.
A teologia ajudou a consagrar essa vocação, porque (pelo menos no caso da teologia cristã) ela se funda num livro e em suas traduções. Deu para eu perceber a importância da exegese e da interpretação, além da tradução. Tive oportunidade ainda para re-pensar muitos movimentos históricos como os Credos, a Reforma Protestante, e, mais recentemente, a teologia da libertação e o Pacto de Lausanne, que me iluminaram o caminho como tradutora de obras teológicas. Na verdade, não há teologia sem as línguas, que até hoje são ensinadas com bastante intensidade nos cursos de teologia. Acredito que o curso de teologia faz bem às pessoas de uma maneira geral, já que o corre-corre do dia a dia não permite pararmos para pensar sobre essas questões. Mas principalmente aos profissionais da educação, mas também das letras deveriam ter uma oportunidade de ao menos conhecer o campo da teologia.
           Além de Lewis e todos os nomes que giram em torno dele: J.R.R. Tolkien, G.K. Chesterton, George Mac Donald (tenho histórias traduzidas e ainda não publicadas desse autores) e Dorothy Sayers, outro autor que me influenciou muito foi Josef Pieper, um teólogo alemão que pode ser comparado a Lewis na sua metodologia filosófico-teológica e na clareza e simplicidade de sua forma de colocar as coisas.
         Lewis entrou na minha história quando ainda era uma menina e vi, pela primeira vez o desenho animado de O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupas. Depois meus irmãos mais velhos começaram a ler as histórias no grupo de jovens e eu sempre ficava de olho neles. Mas não lembro, se cheguei a ler o livro todo na ocasião.
         Mas lembro bem de quando meu professor de filosofia, Luiz Jean Lauand mencionou o Cartas de um Diabo a seu Aprendiz na aula e eu fiquei encantada, pois já tinha ouvido falar nele, mas em contexto totalmente diferente. À época, eu já tinha interesse pela teologia e fui atrás do professor. Isso nos rendeu quatro horas de conversa seguida sobre “Deus e o mundo”. Leia mais sobre isso na entrevista por mim concedida ao blog E-Jesus, disponível em http://www.ejesus.com.br/artigos/por-que-c-s-lewis/, que também está no meu site http://cslewis.com.br/
   C.C.OS OLHOS- E por que C.S.Lewis?
    E no Brasil,existe ou existiu algum escritor que tenha te encantado tanto quanto Lewis?
          Olha, é claro que a primeira pessoa que nos encanta é aquela que vem a ser seu orientador e tive a sorte de ter um que é ele mesmo um autor de mão cheia.
No campo da educação, gosto dos Pioneiros da Escola nova no Brasil: Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo, Lourenço Filho, Cecília Meireles, entre outros.
No campo da literatura, admiro também dos escritos Monteiro Lobato e de Malba Tahan (Julio César de Mello e Souza) e Paulo Freire, principalmente da primeira e da última fase de sua vida e Rubem Alves.
Mas é difícil achar um escritor e pensador que reúne tantos gêneros diferentes quanto C.S. Lewis, que ele soube encarar com maestria e autoridade.

 C.C.OS OLHOS - O Leão,a feiticeira e o guarda-roupa alcançou grande êxito nos cinemas mundiais,inclusive no Brasil.Mas para você,que se tornou especialista nos escritos de Lewis,o público do filme é também  o leitor do livro, As crônicas de Nárnia?Ou o êxito se deve a toda a publicidade feita em torno do filme?
          Existem casos, sim, de pessoas que foram ler o livro, depois de ver o filme, mas acredito que sejam casos raros. Foi o caso, por exemplo, do Serginho, que organiza o site Mundo Nárnia. Ele só começou a ler depois do filme. Mas a maioria que leu o livro também vai ver o filme. Mas a maior parte do público do filme não leu o livro e vai ler com pouquíssima chance, por uma doença bem comum nos dias de hoje: preguiça mental.

 C.C.OS OLHOS – Quais as dificuldades em ser escritora no Brasil?
           Eu acredito que é a falta de visão dos livreiros para escritores menores como eu. Na Europa e nos EUA eles contratam agentes, que se encarregam do marketing, no qual grande parte dos escritores, como eu, são analfabetos. Então, a maior dificuldade acaba sendo essa: vendas e marketing.
C.C.OS OLHOS- Fale nos sobre seu livro  A Pedagogia Cristã na Obra de   C.S.Lewis

*Vou deixar esta tarefa para você.Pode ser?Depois eu publico sua resenha no meu site,se você quiser.
 C.C. OS OLHOS- Como pedagoga, qual a melhor maneira de fazer com que uma criança goste de ler?
           Primeiro, pelo exemplo. Depois, acredito que a família é que mais pode influenciar. Mas tudo acaba, na falta desses dois itens, dependendo de um só: a escola e a educação.
    
         Agradecemos a participação de Gabriele Greggersen,que enriqueceu em muito esta página com sua experiencia com a leitura.
         E aceitamos com muita alegria a tarefa proposta pela profª Gabriele,e breve postaremos em nosso blog,a resenha do livro  A Pedagogia Cristã na Obra de   C.S.Lewis