Entrevista com Joel Macedo

Zé BRasil e Joel Macedo, autor do "Albatroz"
Foto de Carlinhos Monteiro.


                              ALBATROZ - O encontro das tribos
“Joel Macedo fez parte das fileiras da primeira edição do jornal (hoje revista) Rolling Stone no Brasil. Fez a imersão total na cultura hippie, na contracultura e percorreu a América por terra duas vezes presenciando as transformações dos anos 60. Um livro dele, "Tatuagem - Histórias de uma geração na estrada" sempre foi um de meus favoritos e até publiquei um dos contos aqui no Jam Sessions e Joel me diz que isto o incentivou a voltar a escrever. Ele está lançando "Albatroz - O encontro das tribos na Califórnia dos anos 60'', um romance que começa no malfadado Festival de Altamont em 1969, onde os Rolling Stones cometeram o erro de contratar os Hell Angles para a segurança e faz uma remissão ao Verão do amor em 1967, às experiências com LSD de Timothy Leary e Ken Kesey, tudo ao longo da história de dois caras, um brasileiro e um americano, unidos pelo acaso.” (Jamari França, jornal O Globo – RJ).

C.C.OS OLHOS-
Joel, escritor: apenas uma profissão ou paixão?
R. No meu caso, não um escritor profissional como o meu amigo de adolescência Paulo Coelho, por exemplo. Escrevo quando tenho alguma coisa forte a dizer, que vai crescendo até romper as comportas para se tornar texto. Originalmente, eu sou jornalista, mas minha profissão no momento é de tradutor de livros, o que não deixa de ser um escritor é bem verdade. Quanto aos meus próprios livros, os escrevo por paixão somente.

C.C.OS OLHOS
O que é ser escritor e de onde vem a inspiração para escrever?R. Ser escritor é exercer um dom artístico natural que se expressa pela palavra escrita. A inspiração vem de situações  vividas, de impressões sensoriais, de experiências espirituais ou psicológicas...


C.C.OS OLHOS
Qual o perfil de seus leitores?

R. Meio por acaso acabei me especializando num estilo chamado literatura de estrada, fundado pelo escritor americano  Jack Kerouac, dos anos 50 e 60. Meus leitores hoje ou são os “velhos bacanas” que viveram com intensidade os anos 60 e 70, ou a garotada de hoje apaixonada pelo rock, os festivais, e a cultura de “paz e amor” daquela época.

C.C.OS OLHOS
Que diferença e semelhanças você estabelece entre ser escritor e outros trabalhos que você realiza, como o de tradutor, por exemplo?
R. Quando você é o autor você cria, a sua liberdade de criação é total, o que não acontece quando se está traduzindo. Ainda que o rigor deva estar presente em ambas as tarefas, o rigor quando se trabalha um texto alheio deve ser muito maior; não se tem tanta liberdade.

C.C.OS OLHOS
Em sua opinião existe uma relação, uma interação  entre autor e leitor? Como ela ocorre? O que você espera que seus leitores obtenham ao ler seus livros?
R. Excelente pergunta. Se não houver essa interação, o autor fracassou por completo naquele projeto. O artista em geral – e o escritor não foge à regra – tem que ser capaz de tocar o âmago do ser daquele que entra em contato com a sua arte. Tem que haver uma intimidade tal entre a expressão e a recepção que provoque esta interação a que a pergunta se refere. É uma espécie de excitação que a obra literária tem obrigação de produzir. Sinto isso quando leio os livros do húngaro Sándor Marai. Tanto em “As Brasas” quando em “Divórcio em Buda”, a excitação foi tanta que entrei em estado quase febril. Essa mobilização faz parte da arte. O que eu espero – e os leitores de “Tatuagem” e de “Albatroz” têm me dado   este retorno – é que os leitores cresçam ao ler meus livros. Que descubram coisas novas, que as mensagens dos personagens vão de encontro às suas expectativas e anseios.


Ao escrever você pensa especificamente em um grupo, ou, por exemplo, uma pessoa com um pequeno nível de conhecimento sobre o assunto, ao ler o Albatroz, conseguirá interagir através desta leitura com você?
R. A universalidade da narrativa é um dos requisitos de qualquer bom escritor. Quanto mais universal for a sua mensagem (ou seja, quanto mais pessoas puderem entendê-la e se identificar com ela) melhor escritor ele será – ainda que o tema de sua obra esteja circunscrito à uma determinada época ou cultura. No exemplo de “Albatroz”, a sua história se passa nos Estados Unidos do final dos anos 60, mas qualquer pessoa antenada com a vida pode se beneficiar da sua mensagem. 



C.C.OS OLHOS  
Joel, você teve a oportunidade de conhecer inúmeros países, culturas diversas, leitores diversos. Como você analisa a importância da leitura nestas culturas e no Brasil? Que tipo de leitor é o brasileiro?
R. Outra ótima pergunta. Eu considero a leitura uma forma de conhecimento insubstituível. Acho a internet um ganho, sem dúvida, mas a minha alma sangra quando eu percebo que a internet está afastando as pessoas do livro e, mais que isso, tornando o livro em papel obsoleto. Se o brasileiro já lia pouco, agora, com o advento da internet é que não está lendo mais nada mesmo! Imagino que daqui a alguns anos (não muitos) os leitores de livro no Brasil serão aficionados exóticos assim como são hoje os colecionadores de disco de vinil. E eu quero estar entre estes.


C.C.OS OLHOS

 Atualmente, não só no Brasil, mas em inúmeros países assistimos ao sucesso editorial de série de livros como Harry Potter, escrita pela britânica J. K. Rowling e o Crepúsculo de Stephenie Meyer. Aqui no Brasil,especificamente,não vemos o mesmo entusiasmo de adolescentes e jovens com autores brasileiros como Drumond,Cecilia Meireles, Castro Alves , Monteiro Lobato ,Machado de Assis,Cora Coralina,entres outros mais.Como você analisa o sucesso destas séries de livro e o desinteresse do brasileiro por escritores mais clássicos?
         
R. Como já disse, eu acho que o desinteresse das novas gerações pelo livro é geral. Um ou outro, quando apoiado por alguma mídia paralela, como o cinema, consegue se destacar nas vendas. Mesmo assim, nesta segunda década do século 21, já não se vê Harry Potter vendendo muito. Escritor que tinha que ganhar dinheiro com seus livros, já ganhou, daqui pra frente... Estamos no auge da civilização da imagem, da superficialidade, da velocidade, da aparência. A literatura é a arte do profundo. E quem quer se aprofundar em alguma coisa hoje em dia? Pouca gente não é mesmo? Quem gasta tempo para ler corre o risco de ser visto como “ocioso” dentro de sua própria casa. Autores como Manoel de Barros, Cora Coralina e, numa escala menor, Joel Macedo, serão lembrados como cults, lidos apenas por um determinado nicho cultural.

C.C.OS OLHOS
Fale- nos sobre o seu  livro mais recente o Albatroz. Dos seus trabalhos qual é o mais queridinho, aquele que mais deu prazer?

       

 R. “Albatroz” realmente é o meu queridinho, e não por ser o mais recente. É porque é mais bem escrito que os anteriores, mais elaborado, mais espiritual. É a parábola bíblica do Filho Pródigo ambientada no contexto do movimento hippie americano que eclodiu na Califórnia dos anos 60. Um universitário do Arizona – Jou Rainbow – queima seu cartão de convocação militar para a guerra do Vietnã, compra uma moto e vai para Califórnia onde a festa hippie está começando. Ele faz uma imersão nas drogas, viaja pelos festivais de rock, até que com o passar dos anos enxerga com os seus próprios olhos que aquele sonho está se deteriorando, que as pessoas estão morrendo prematuramente etc. Uma determinada vivência num festival faz ele dar uma guinada e tomar o caminho de volta pra casa, isso em meio a muitos episódios, personagens e discussões sobre a história americana. Um dos personagens é um jornalista brasileiro de quem Jou Rainbow fica amigo e para quem ele conta suas histórias.
C.C.OS OLHOS
Enquanto escritor, como você vê a situação dos escritores brasileiros no que diz respeito ao incentivo do Estado, no desenvolvimento e divulgação dos trabalhos?
              
C.C.OS OLHOS
 Qual o conselho,a dica que você,como escritor daria para uma turma de futuros pedagogos da Fae/UFMG que estarão muito em breve envolvidos na formação de leitores?
           
 
 R. Incentivo do Estado? Se existe algum, eu desconheço. Hoje eu vejo o Estado incentivando as Paradas Gays e não a cultura genuína.


R. Que façam de tudo para tornar o livro atraente para as novas gerações. Como disse acima, o conhecimento que o livro traz é insubstituível. Mas como Deus escolheu perpetuar a Sua palavra num Livro, tenho a certeza que Ele mesmo cuidará para que o livro não seja extinto da sociedade humana até que Ele queira.

            Nós do Colhendo com os Olhos, agradecemos a participação do escritor Joel Macedo,e sua disposição em nos ajudar a descobrirmos o mundo da leitura,através de sua experiência.
           “Albatroz – o encontro das tribos na Califórnia dos anos 60” pode ser encomendado pelo site da Livraria Cultura (livrariacultura.com.br) ou diretamente com o autor pelo e-mail: joel.macedo@yahoo.com.br